quarta-feira, 4 de julho de 2007

Para a Catarina d’Orey, ao ouvido também

O local do campo da Caixa Escolar mantinha muito do espírito da antiga Cidade do Santo Nome de Deus: casas coloniais, árvores, alguma sombra e uma atmosfera tranquila que atribuía um significado diferente às coisas. O próprio recinto desportivo, Catarina, também era para jogar modalidades exóticas do império como o hóquei em campo. Lembras-te? Talvez não. Talvez só tenhas entrado na nossa vida algum tempo depois. E, no entanto, foi como se sempre tivesses estado lá e o teu lugar já estivesse marcado entre nós.

O campo da Caixa Escolar era um altar de rituais da adolescência masculina: a ansiedade da competição, o sabor amargo da derrota, a euforia da vitória, o espírito de equipa, a dor das lesões, o cheiro de suor dos equipamentos e todas as micoses que era possível apanhar com aquela mistura de calor e humidade. Estarias tu lá, Catarina, a assistir aos jogos da nossa equipa do Liceu? Que medo teria então de sofrer um golo e te decepcionar, eu, pobre guarda-redes improvisado! Imagino o nosso capitão, o Rui Pereira, a sorrir com a minha distracção e eu a procurar-vos na assistência, procurando, procurando... Medo de te decepcionar como quando nos encontrámos no comboio alguns anos depois e descobriste que afinal os meus olhos não eram verdes.

Foi no mesmo cimentado onde vocês patinavam que passei uma certa manhã de férias a jogar basquetebol, sem imaginar que iria acabar a noite operado de urgência ao apêndice no Hospital Conde de São Januário. E aí entras tu, Catarina! Ias visitar-me diariamente e até me davas o almoço com paciência de enfermeira aprendiz. Um dia a madre comentou com a minha mãe que fazíamos um lindo par. Acho que nunca te contei isto, pois não Catarina? Ficou tudo por contar, eu sei.

1 comentário:

rodrigo disse...

Simplesmente clarificador.
Simplesmente apaixonante
Simplesmente!